6.18.2010
6.11.2010
Tens razão
Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açúcares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”. Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos… E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados? Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ai que não vi a tua chamada não atendida”. Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste. Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam – vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.
Fernando Alvim
5.19.2010
Lembranças
Queres saber como eu te amo?
Amo-te sem utopia. Amo-te com um sentimento real, sem as cores do arco-íris, pintadas pelo poeta quando fala de amor. Amo-te com teus defeitos - quem não os tem? - Amo-te com tuas fraquezas, porque é uma forma de me sentir forte, quando, na minha solidão, sou apenas fragilidade. Amo-te no cantar da fonte - o som da vida - No cheiro da mata - o aroma da vida - Nos pingos da chuva - fecundação da vida - No brilho do sol - despertar da vida - Na carícia do vento - respiração da vida - Como ves, amo-te sem sonhos e sem ilusões: amo-te no acontecer da vida; pura e simplesmente, na realidade da vida.
Amo-te sem utopia. Amo-te com um sentimento real, sem as cores do arco-íris, pintadas pelo poeta quando fala de amor. Amo-te com teus defeitos - quem não os tem? - Amo-te com tuas fraquezas, porque é uma forma de me sentir forte, quando, na minha solidão, sou apenas fragilidade. Amo-te no cantar da fonte - o som da vida - No cheiro da mata - o aroma da vida - Nos pingos da chuva - fecundação da vida - No brilho do sol - despertar da vida - Na carícia do vento - respiração da vida - Como ves, amo-te sem sonhos e sem ilusões: amo-te no acontecer da vida; pura e simplesmente, na realidade da vida.
4.17.2010
3.01.2010
2.16.2010
Namorados
"Namorados. São uma coisa porreira. Fazem-nos sentir a nós mulheres bonitas, únicas, amadas e desejadas. Chamam-nos Pequeninas, Princesas e outras delícias para o ouvido e o coração, enchem- se de paciência para ouvir os nossos desabafos e alinham com os nossos amigos. Alguns até têm um dom especial para lidar com as nossas mães, mas isso é uma singularidade rara, não podemos contar com ela no comum mortal.
Namorados. São uma coisa porreira. Até ao dia. O dia em que acordam e ficam com dúvidas, acendem a luz de alarme do complicómetro e começam a pensar no-que-é-que-isto-vai-dar, ou então ligam o radar que é outra peça que vem sempre acoplada ao macho e descobrem que o mundo está cheio a abarrotar de Princesas, Pequeninas e outros seres maravilhosos com longas pestanas, calças de ganga justas e cabelos compridos. E que muitas delas, coitadinhas, estão tão sozinhas, mesmo a precisar de companhia.
Como dizia o outro – desculpem andar-me a repetir com citações, parece que já usei esta, mas para mim é mais ou menos como o puré de batata nos menús dos colégios, dá para tudo – o homem caça e luta, a mulher intriga e sonha. E caça mesmo. Perdizes, narcejas, galinholas, Cláudias, Kátias ou Luisas, tanto faz. No couto ou no Lux, é indiferente. Ao meio dia num campo descoberto ou às cinco da manhã na pista da Kapital, não é relevante. O que o Homem gosta é do acto predador: se é um safari no Quénia ou uma saída na movida lisboeta, tanto faz. Há que apanhar uma presa e dar-lhe cabo do canastro. O que é preciso é um tipo manter-se vivo, dizia-me outro dia um caçador nato. Como se a vida dependesse disso.
Namorados. São uma coisa porreira, se nunca nos esquecermos que são como os iogurtes: saborosos, docinhos, deliciosos, mas com prazo de validade. Mas há que olhar para o lado do bom da coisa e fazer como diziam os romanos carpe diem, que é como quem diz, aproveitar o dia e esperar pelo dia seguinte sem esperar nada. Com um bocadinho de sorte, pode ser que ele ainda lá esteja, ou telefone, ou não lhe tenha apetecido ir às narcejas. Ou às Cláudias"
Namorados. São uma coisa porreira. Até ao dia. O dia em que acordam e ficam com dúvidas, acendem a luz de alarme do complicómetro e começam a pensar no-que-é-que-isto-vai-dar, ou então ligam o radar que é outra peça que vem sempre acoplada ao macho e descobrem que o mundo está cheio a abarrotar de Princesas, Pequeninas e outros seres maravilhosos com longas pestanas, calças de ganga justas e cabelos compridos. E que muitas delas, coitadinhas, estão tão sozinhas, mesmo a precisar de companhia.
Como dizia o outro – desculpem andar-me a repetir com citações, parece que já usei esta, mas para mim é mais ou menos como o puré de batata nos menús dos colégios, dá para tudo – o homem caça e luta, a mulher intriga e sonha. E caça mesmo. Perdizes, narcejas, galinholas, Cláudias, Kátias ou Luisas, tanto faz. No couto ou no Lux, é indiferente. Ao meio dia num campo descoberto ou às cinco da manhã na pista da Kapital, não é relevante. O que o Homem gosta é do acto predador: se é um safari no Quénia ou uma saída na movida lisboeta, tanto faz. Há que apanhar uma presa e dar-lhe cabo do canastro. O que é preciso é um tipo manter-se vivo, dizia-me outro dia um caçador nato. Como se a vida dependesse disso.
Namorados. São uma coisa porreira, se nunca nos esquecermos que são como os iogurtes: saborosos, docinhos, deliciosos, mas com prazo de validade. Mas há que olhar para o lado do bom da coisa e fazer como diziam os romanos carpe diem, que é como quem diz, aproveitar o dia e esperar pelo dia seguinte sem esperar nada. Com um bocadinho de sorte, pode ser que ele ainda lá esteja, ou telefone, ou não lhe tenha apetecido ir às narcejas. Ou às Cláudias"
Ridícula !
- já não me amas?
-amo. mas amo-me muito mais a mim. por isso deixo-te, porque sei que amanhã vais encontrar alguém no metro ou na paragem do autocarro. é por te amar que te deixo, só por isso.
-tens um argumento ridículo.
-hoje até que me sinto bastante ridícula.
-porque é que me vais deixar?
-sou demasiado egoísta para saber cuidar de alguém. vais descobrir uma pessoa que o saiba fazer de uma maneira muito melhor, mas essa nunca te vai amar da mesma maneira que eu.
porque eu amo de maneira ridícula.
-amo. mas amo-me muito mais a mim. por isso deixo-te, porque sei que amanhã vais encontrar alguém no metro ou na paragem do autocarro. é por te amar que te deixo, só por isso.
-tens um argumento ridículo.
-hoje até que me sinto bastante ridícula.
-porque é que me vais deixar?
-sou demasiado egoísta para saber cuidar de alguém. vais descobrir uma pessoa que o saiba fazer de uma maneira muito melhor, mas essa nunca te vai amar da mesma maneira que eu.
porque eu amo de maneira ridícula.
Sei que um dia ...
"Sei que um dia te vais lembrar de mim, e os números da tua agenda passarão claramente à tua frente e não terás nenhum para marcar. Talvez até tentes o meu, mas até lá posso não te atender ou talvez aquele já nem seja o meu número. Vais tentar chamar alguém, mas não vai haver ninguém que largue tudo para te ir dar um abraço. Nessa fracção de segundo, quando os teus pés perderem o chão, vais-te lembrar do meu carinho e do meu sorriso inocente. Virão súbitas memórias dos nossos momentos, abraços ou até do sossego quando adormecias no meu peito. E só haverá uma música a repetir no teu rádio: a nossa. E num novo momento vais sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vais torcer bem forte para ter tudo o que era nosso de volta. Vais estar deitado na tua cama, a ver televisão, como mais uma das muitas noites que aí passas, vais ouvir a chuva a cair e vais sentir um imenso vazio por não teres um grande amor para compartilhar esse momento. Não terás ninguém para brincar contigo, admirar o pôr-do-sol, ou até mesmo partilhar as tuas histórias com um grande entusiasmo, como o fazias. O nome disso é saudade, aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre. Quando finalmente bateres na minha porta, ela estará trancada ou se aberta, mostrará uma casa vazia. Os teus olhos vão ensinar-te o que são lágrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto. E vais lembrar-te das festas que eu fazia no teu cabelo para adormeceres, do meu jeito de te tentar fazer feliz. O nome do enjoo que vais sentir é arrependimento. Um dia quando te deitares e olhares para o tecto do teu quarto escuro, vais-te lembrar que as estrelas poderiam lá estar, para iluminar todas as tuas noites frias, mas tudo o que vais ver é a escuridão. E quando os dias passarem e eu não te ligar, quando sentires que o mundo é enorme e que mesmo assim te sentes sozinho, e quando ninguém te olhar como eu te olhava, vais encontrar a solidão. E vais ver que diante de tudo isso, alguns dos meus defeitos poderiam ter sido perdoáveis."
1.28.2010
Come-mos
o primeiro passo é a aceitação. o segundo é a adesão. o terceiro a compreensão. e o quarto é o sítio onde uma pessoa dorme.
1.26.2010
Esperar
“Espero por ti porque sei esperar, por que nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz lembrar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.”
Margarida Rebelo de Pinto
Margarida Rebelo de Pinto
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